Mude de Verdade
Com todos os duplos sentidos que essa expressão possa conter.
6.10.11
3.10.11
Se eu pudesse começar de novo
A vida é muito curta.
Isto é fatal.
Mas,
se eu pudesse começar
de novo,
tomaria certos cuidados que nem sempre tomei.
Jamais teria permitido
que me prendessem,
ainda que em nome do amor.
Teria quebrado as correntes logo no início.
Teria tido menos pressa
e mais coragem.
E nenhum sentimento de culpa.
Daria valor secundário
a todas as coisas secundárias,
e consideraria secundário tudo aquilo
que não tivesse o efetivo poder de causar
mudanças significativas no rumo
da minha vida.
Todas as manhãs começariam
com meditação,
sexo
e frutas leves.
Se pudesse começar de novo,
dançaria muito mais
do que dancei,
e brincaria muito mais do que brinquei.
Minha Vida seria uma festa...
Se pudesse mesmo começar de novo,
seria mais espontâneo.
Seria mais ousado:
A ousadia move o mundo.
Desobedeceria
todas as regras injustas,
e afastaria os preconceitos e a hipocrisia.
Procuraria respeitar sempre
o Deus de cada um.
Teria viajado muito mais do que viajei.
Correria mais riscos.
E teria tido seis milhões de amores profundos...
Se eu pudesse começar outra vez,
iria aprender com os erros dos outros,
e com os acertos também.
Andaria mais leve:
não levaria comigo nada que fosse
apenas um fardo.
Não teria desperdiçado tanta vida
e tanto tempo.
Não teria tentado salvar todo mundo.
Amaria muito mais a liberdade.
Viveria cada minuto
como se Deus
derramasse flores e estrelas na minha cabeça.
Tentaria uma coisa nova
todos os dias.
Em tudo que fizesse colocaria
mais Poesia,
mais Amor, mais Alegria.
E teria feito a opção de ser feliz
muito mais cedo
do que fiz.
Edson Marques
Manual da Separação
página 71
28.9.11
11.9.11
o jogo da vida
Além da vida e do amor, há um jogo que também me agrada: é aquele que acontece quando trago para a tela do computador uma poesia que já escrevi. E fico jogando com as palavras e o seu sentido. Passo a noite quase toda mexendo com elas, jogando com elas, acariciando-as, beijando-as, lambendo-lhes as partes mais íntimas, amando-as livremente. Mudo-lhes algum sentido, dou-lhes forma nova, pinto-as de azul. Enriqueço rimas em prol do amor, coloco consoantes de apoio, quebro a estrutura da frase, abandono as regras antigas, invento outras mais gostosas, escrevo, apago, escrevo, pinto, sinto e danço. Se por acaso vou ganhando, vibro e quero sempre ganhar mais. E se perco, a cada jogada sublime que faço, maior é o meu ânimo para jogar de novo, recuperar aquilo que perdi. De qualquer forma, passo a noite toda jogando, em todos os sentidos. Vem a madrugada e já começo a brilhar, metáfora de lux. Então, exaustos de tanto amor, os dois nos vencemos: o poema ganhou de mim, e eu com certeza o venci.
24.8.11
A cabeça do Criador
Tudo que existe — existe duas vezes: primeiro, na cabeça do criador. Toda mudança tem que antes ser sonhada. A realidade só se transforma de verdade, na prática, depois que transformou-se em teoria. Primeiro no cérebro — depois, no mundo. Sem sonho e sem loucura, nada se produz. Nem sorvete, nem avião, nem coca-cola. Os inventores são todos visionários. Einstein, Jesus Cristo, Picasso, Galileu e Niemeyer: um bando de malucos. Se dependesse dos normais, ainda andaríamos de carroça. Talvez nem de carroça, pois a roda foi criada por um louco. Sem fantasia, não se encanta o cotidiano. A imaginação descontrolada é que dá cor e vida ao mundo. Por isso é que a Loucura é desejada — e ao mesmo tempo tão temida...
18.8.11
Chefes de escritório
É ridícula e desprezível a seriedade forçada de alguns chefes de escritório, que se acham importantes, e que passam a carregar seus gestos e atitudes com essa suposta importância. Coreografam até mesmo a maneira como botam suas bundas nas cadeiras. Emprestam liturgia à própria mediocridade. E acham, os estúpidos, que o mundo gira por causa deles. Esses chefinhos de escritório — tenham eles o cargo que tiverem — são ridículos em si mesmos: não é preciso que o demonstrem. Carregam essa falsa importância como um burro carrega a própria carga. E esperam, os coitados, que nós também os consideremos importantes. Mas, em verdade, são apenas uns corcundas que perdem a vida, mas não perdem a pose... Exigem obediência, mas só levam nosso riso. Se você tem um desses, livre-se dele!
14.8.11
dia dos pais
Ele era o símbolo da autoridade, e eu — da rebeldia. Nenhum de nós dois gostava de repartir a liderança. Eu não nasci pra ser segundo, e ele abominava a ideia de não ser o primeiro. Então, quando fiz dezessete nos separamos: eu vim estudar filosofia, e ele continuou um ótimo comerciante. Foi então que começamos realmente a conversar. Depois, com o tempo, nos tornamos amigos. Hoje, somos amantes.
Como não tenho filhos, escrevi um breve texto sobre meu pai — homenagem ao seu dia. Leia-o aqui.
Como não tenho filhos, escrevi um breve texto sobre meu pai — homenagem ao seu dia. Leia-o aqui.
12.8.11
O Talmud e a bela fruta
O Talmud nos diz que se uma pessoa tiver a oportunidade de saborear uma nova e bela fruta, e recusar-se a fazê-lo — terá de prestar contas por isso perante Deus.
11.8.11
Amor pode ser crime
A fêmea do crocodilo atinge a maturidade sexual por volta dos dez anos. O pintassilgo e a marreca, entre dez e doze meses. A leoa aos quatro anos, a jumenta aos dois, e assim por diante. Tudo devidamente catalogado e aceito. Mas, no caso dos humanos, a ciência ainda não conseguiu estipular uma idade correta, e os legisladores não chegam a um consenso. Na França diz-se que a mulher atinge sua maturidade sexual aos quatorze anos. No Japão, treze, na Espanha doze, na Argentina dezessete, no Brasil dezoito. Nos Estados Unidos, vinte e quatro. Na Arábia Saudita... oitenta. Portanto, cuidado: em certos países, fazer amor pode ser crime.
10.8.11
A vida é um jogo
A Vida é um jogo, belíssimo, onde só se pode ganhar aquilo que se arrisca.
Mas você parece que não anda perdendo muito, nem ganhando muito.
Nenhuma derrota acachapante, nenhuma vitória inesquecivel.
Nenhum ato grandioso, nenhum espetáculo.
Nenhuma desgraça, nenhuma paixão.
Nenhuma queda profunda, nenhum salto mortal.
Nem pra cima, nem pra baixo.
Nada!
Nem escuridão, nem brilho, nem glória, nem tragédia.
Assim — a tua vida.
Segura, pacata, certinha, e normal.
Tudo em ordem, tudo estável e bem comportado.
Tudo em brancas nuvens.
Tudo meio morno, meio tépido, meio frouxo, meio mole.
Meio apagado.
Meio cinzento e meio sem graça.
Assim — a tua morte..
9.8.11
Eu te amo
Eu te amo quando não preciso mais dizer te amo.
Eu te amo quando reconheço teu Direito de Fazer Escolhas.
Eu te amo quando respeito tua própria liberdade tanto quanto a minha.
Eu te amo quando compreendo tua vontade de às vezes ficar só.
Eu te amo quando não te sufoco com chiliques ou pressões.
Eu te amo quando ponho afeto entre as nossas distâncias.
Eu te amo quando aplaudo os teus desejos de voar.
Eu te amo quando me convenço de que o ciúme é o câncer do amor.
Eu te amo quando te ajudo a ser mais livre do que eras quando eu te conheci.
Eu te amo quando a recíproca a tudo isso também é verdadeira.
Eu te amo quando reconheço teu Direito de Fazer Escolhas.
Eu te amo quando respeito tua própria liberdade tanto quanto a minha.
Eu te amo quando compreendo tua vontade de às vezes ficar só.
Eu te amo quando não te sufoco com chiliques ou pressões.
Eu te amo quando ponho afeto entre as nossas distâncias.
Eu te amo quando aplaudo os teus desejos de voar.
Eu te amo quando me convenço de que o ciúme é o câncer do amor.
Eu te amo quando te ajudo a ser mais livre do que eras quando eu te conheci.
Eu te amo quando a recíproca a tudo isso também é verdadeira.
8.8.11
Eu amo a perda
Estou perdendo hoje um grande amor... que eu supunha estar no pico e na hora certa de perdê-lo de vez. Mas pode ser que não. Pois a cada minuto que agoniza agora em minhas mãos, inocente e delicado, sinto que ele cresce ainda mais — e de uma forma impressionante — no meu próprio coração.
Eu amo a perda, repito, e acho-a necessária e fascinante nas relações de amor. Mas tem horas que suponho ser preciso suspendê-la por uns tempos. Tem horas que eu sofro uma recaída inexplicável — e amo como se fosse um simples imortal...
Eu amo a perda, repito, e acho-a necessária e fascinante nas relações de amor. Mas tem horas que suponho ser preciso suspendê-la por uns tempos. Tem horas que eu sofro uma recaída inexplicável — e amo como se fosse um simples imortal...
7.8.11
Quero tua luz de amante
Nunca escondo meus leitores de si mesmos: mostro-lhes a parte escura que se perde dentro deles. Só gosta de me ler quem já tem brilho e não se assusta com palavras encantantes. Mas se eu não transformar as emoções em arte, não terei coragem de abrir meu peito e ser lido por você. Por isso, só me mostro inteiro após o meu espanto, e só te dou estas palavras depois que as refino. Se eu primeiro não polir as minhas pedras preciosas com amor e liberdade, como poderia eu querer trocá-las por tua luz diamante?
livre ou normal
João é um sujeito que anda na linha do trem. Adora ser normal. Guardou suas asas no armário do Medo. Mas, como chefe de família, é competente. E foi esse papel secundário que escolheu para mostrar que é um grande homem... Como aventureiro, ele teria de ser fantástico para merecer elogios, posto que sobre ele cairiam certamente a ira divina e a reprovação social por deixar o caminho dos trilhos. Como chefe de família, entretanto, não lhe serão cobrados comportamentos extraordinários: basta que seja um bom marido e um bom pai. Basta que tenha um emprego fixo e um plano de saúde. Que use coleiras e não faça loucuras. E que não se extravie de forma alguma, nem chegue tarde em casa sem dar boas explicações...
Como se vê, muito mais fácil do que ser livre.
6.8.11
desapego e coragem
São duas as moedas que compram a Liberdade: chamam-se Desapego e Coragem. Quantas delas você tem no teu baú?
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