15.12.10

amizade versus amor

A amizade nunca impõe restrições aos atos do outro, nem constrói barreiras para impedir o crescimento do ser amado. A amizade pressupõe compreensão absoluta. Confiança irrestrita. E assim também deveria ser o amor. O verdadeiro Amor. Sabe, depois de ter amado tanto e estar amando ainda mais; depois de conhecer — inclusive no sentido bíblico — milhares de pessoas, eu acabo concluindo que o Amor só acontece em sua plenitude numa deliciosa relação de amizade.

Mas uma amizade coloridíssima, daliniana, picassante!

Tentarei me explicar.

Já imaginou passar a vida toda com um amigo só?! Já imaginou assinar um documento se comprometendo que só vai ter esse amigo pelo resto da vida? Almoçar só com ele, jantar só com ele, ir ao teatro, ao cinema, à praia — só com ele! Viajar só com ele — e só se ele permitir! Dormir ao lado dele todo dia, na mesma cama! Conversar sobre os mesmos assuntos, ver os mesmos programas de tv, entediar-se mutuamente — todo dia!

Ah... a amizade com certeza não resistiria...

Então, por que você acha que o amor é capaz de resistir?

Alegria dos Navegantes

Só a alegria dos navegantes errantes é que descobre mundos novos. E os encanta. Quem navega com mapas e bússolas não descobre mais nada. Só quem salta inteiro no belo azul profundo da Vida é que pode viver e brilhar de verdade.


É disso, é só disso que trato no meu blog e nos meus livros:
Da Gramática do Amor.
Se você não gosta dessas coisas, nunca será meu leitor.
Minha literatura propõe uma prática de Liberdade.
Le livre de la Liberté!
Eu só falo de amor.
— De amor livre.


Acabou o churrasco, todos já se foram. Jesus foi o último a sair, abraçado a Henry Miller, os dois de fogo. E já lhes avisei que hoje teremos um jantar à luz de velas, só para nós três.
Disseram que virão.

Agora já é madrugada, e eu fico pensando.

Será que você — que não entende como posso ter feito ontem um churrasco só pra mim — será que você nunca passou uma noite inteira lendo um livro, sublinhando palavras ao acaso, cotovelos apoiados na mesa, as mãos e um belo copo de vinho suportando a cabeça dançante? Será que você nunca passou uma noite inteira sozinho, deliciando-se com você mesmo, solto e alegre — sem saber nem como amanhecer?

Pois então é preciso que te pergunte:

Você é livre para viver gostosamente a própria Solidão — se quiser — ou tem sempre que reparti-la com alguém?

12.12.10

As maiores emoções

As maiores e melhores emoções da minha vida, eu as vivi em situações contrárias aos padrões morais ou legais vigentes. As grandes emoções estão sempre ligadas à superação das regras e dos limites. Quem faz as regras é geralmente um velho tolo e decrépito, que não entende de emoção nem de prazer. Quem faz as regras morais — ou quem cuida para que elas sejam obedecidas com rigor — é geralmente uma pessoa insensível às coisas do coração maravilhado.

Não pode ser um poeta; geralmente é um ditador.