24.8.11

A cabeça do Criador

Tudo que existe — existe duas vezes: primeiro, na cabeça do criador. Toda mudança tem que antes ser sonhada. A realidade só se transforma de verdade, na prática, depois que transformou-se em teoria. Primeiro no cérebro — depois, no mundo. Sem sonho e sem loucura, nada se produz. Nem sorvete, nem avião, nem coca-cola. Os inventores são todos visionários. Einstein, Jesus Cristo, Picasso, Galileu e Niemeyer: um bando de malucos. Se dependesse dos normais, ainda andaríamos de carroça. Talvez nem de carroça, pois a roda foi criada por um louco. Sem fantasia, não se encanta o cotidiano. A imaginação descontrolada é que dá cor e vida ao mundo. Por isso é que a Loucura é desejada — e ao mesmo tempo tão temida...

18.8.11

Chefes de escritório

É ridícula e desprezível a seriedade forçada de alguns chefes de escritório, que se acham importantes, e que passam a carregar seus gestos e atitudes com essa suposta importância. Coreografam até mesmo a maneira como botam suas bundas nas cadeiras. Emprestam liturgia à própria mediocridade. E acham, os estúpidos, que o mundo gira por causa deles. Esses chefinhos de escritório — tenham eles o cargo que tiverem — são ridículos em si mesmos: não é preciso que o demonstrem. Carregam essa falsa importância como um burro carrega a própria carga. E esperam, os coitados, que nós também os consideremos importantes. Mas, em verdade, são apenas uns corcundas que perdem a vida, mas não perdem a pose... Exigem obediência, mas só levam nosso riso. Se você tem um desses, livre-se dele!

14.8.11

dia dos pais

Ele era o símbolo da autoridade, e eu — da rebeldia. Nenhum de nós dois gostava de repartir a liderança. Eu não nasci pra ser segundo, e ele abominava a ideia de não ser o primeiro. Então, quando fiz dezessete nos separamos: eu vim estudar filosofia, e ele continuou um ótimo comerciante. Foi então que começamos realmente a conversar. Depois, com o tempo, nos tornamos amigos. Hoje, somos amantes.

Como não tenho filhos, escrevi um breve texto sobre meu pai — homenagem ao seu dia. Leia-o aqui.

12.8.11

O Talmud e a bela fruta

O Talmud nos diz que se uma pessoa tiver a oportunidade de saborear uma nova e bela fruta, e recusar-se a fazê-lo — terá de prestar contas por isso perante Deus.

11.8.11

Amor pode ser crime

A fêmea do crocodilo atinge a maturidade sexual por volta dos dez anos. O pintassilgo e a marreca, entre dez e doze meses. A leoa aos quatro anos, a jumenta aos dois, e assim por diante. Tudo devidamente catalogado e aceito. Mas, no caso dos humanos, a ciência ainda não conseguiu estipular uma idade correta, e os legisladores não chegam a um consenso. Na França diz-se que a mulher atinge sua maturidade sexual aos quatorze anos. No Japão, treze, na Espanha doze, na Argentina dezessete, no Brasil dezoito. Nos Estados Unidos, vinte e quatro. Na Arábia Saudita... oitenta. Portanto, cuidado: em certos países, fazer amor pode ser crime.

10.8.11

A vida é um jogo


A Vida é um jogo, belíssimo, onde só se pode ganhar aquilo que se arrisca.
Mas você parece que não anda perdendo muito, nem ganhando muito.
Nenhuma derrota acachapante, nenhuma vitória inesquecivel.
Nenhum ato grandioso, nenhum espetáculo.
Nenhuma desgraça, nenhuma paixão.
Nenhuma queda profunda, nenhum salto mortal.
Nem pra cima, nem pra baixo.
Nada!
Nem escuridão, nem brilho, nem glória, nem tragédia.
Assim — a tua vida.
Segura, pacata, certinha, e normal.
Tudo em ordem, tudo estável e bem comportado.
Tudo em brancas nuvens.
Tudo meio morno, meio tépido, meio frouxo, meio mole.
Meio apagado.
Meio cinzento e meio sem graça.
Assim — a tua morte.
.

9.8.11

Eu te amo

Eu te amo quando não preciso mais dizer te amo.
Eu te amo quando reconheço teu Direito de Fazer Escolhas.
Eu te amo quando respeito tua própria liberdade tanto quanto a minha.
Eu te amo quando compreendo tua vontade de às vezes ficar só.
Eu te amo quando não te sufoco com chiliques ou pressões.
Eu te amo quando ponho afeto entre as nossas distâncias.
Eu te amo quando aplaudo os teus desejos de voar.
Eu te amo quando me convenço de que o ciúme é o câncer do amor.
Eu te amo quando te ajudo a ser mais livre do que eras quando eu te conheci.
Eu te amo quando a recíproca a tudo isso também é verdadeira.

8.8.11

Eu amo a perda

Estou perdendo hoje um grande amor... que eu supunha estar no pico e na hora certa de perdê-lo de vez. Mas pode ser que não. Pois a cada minuto que agoniza agora em minhas mãos, inocente e delicado, sinto que ele cresce ainda mais — e de uma forma impressionante — no meu próprio coração.

Eu amo a perda, repito, e acho-a necessária e fascinante nas relações de amor. Mas tem horas que suponho ser preciso suspendê-la por uns tempos. Tem horas que eu sofro uma recaída inexplicável — e amo como se fosse um simples imortal...

7.8.11

Quero tua luz de amante

Nunca escondo meus leitores de si mesmos: mostro-lhes a parte escura que se perde dentro deles. Só gosta de me ler quem já tem brilho e não se assusta com palavras encantantes. Mas se eu não transformar as emoções em arte, não terei coragem de abrir meu peito e ser lido por você. Por isso, só me mostro inteiro após o meu espanto, e só te dou estas palavras depois que as refino. Se eu primeiro não polir as minhas pedras preciosas com amor e liberdade, como poderia eu querer trocá-las por tua luz diamante?

livre ou normal

João é um sujeito que anda na linha do trem. Adora ser normal. Guardou suas asas no armário do Medo. Mas, como chefe de família, é competente. E foi esse papel secundário que escolheu para mostrar que é um grande homem... Como aventureiro, ele teria de ser fantástico para merecer elogios, posto que sobre ele cairiam certamente a ira divina e a reprovação social por deixar o caminho dos trilhos. Como chefe de família, entretanto, não lhe serão cobrados comportamentos extraordinários: basta que seja um bom marido e um bom pai. Basta que tenha um emprego fixo e um plano de saúde. Que use coleiras e não faça loucuras. E que não se extravie de forma alguma, nem chegue tarde em casa sem dar boas explicações...

Como se vê, muito mais fácil do que ser livre.

6.8.11

desapego e coragem

São duas as moedas que compram a Liberdade: chamam-se Desapego e Coragem. Quantas delas você tem no teu baú?

5.8.11

Caminhos novos aprimoram nosso amor

Nessa minha busca, nessa minha incansável e eterna busca de caminhos, eu acabo às vezes me afastando de você. E esse espaço, essa distância — esse vazio — é como uma navalha cortando a emoção... A emoção não deve ser cortada, eu sei. Mas, que se há de fazer? Eu quero apenas abraçar a metade do infinito.

Mas essa busca incansável de caminhos é uma das mais nobres e louváveis tentativas de aprimoramento. Signfica refinar, cada vez mais, o sentimento de amor-próprio. O contrário disso chama-se acomodação. Ou, até mesmo, desleixo. Talvez covardia.

3.8.11

Alguns dos Meus Amores

Isabelle adora fazer amor à tarde, no crepúsculo cor de abóbora da praia da Enseada. Rose prefere elevadores vazios em madrugadas silenciosas. Janaína, lençóis negros de cetim enquanto ouvimos Jon Bon Jovi. Fabiane sempre fica nua quando descemos a Serra em noites de lua cheia. Daniela dança como ninguém. Luísa sempre chega de surpresa, com saias floridas e uma garrafa de vinho. Fátima tem o corpo mais perfeito que já vi na minha vida. Adriana conhece Paganini na ponta da língua, e me conta histórias de amor. Suzana sabe fazer pudim gelado — e adora o risco de saltar profundo. Joyce Ann tem a delicadeza de Vênus — e incentiva todas as minhas loucuras.

Elaine é aquela cujo nome é outro e mora aqui mesmo no meu prédio. R tem o erotismo inocente dos quinze anos; Sílvia, a madura experiência deliciosa. Alessandra parece ter nascido na ilha de Lesbos: adora fazer amor a três. Ana é sensual até debaixo dágua, e vive me lendo Henry Miller. Andressa é a maior expressão de que a natureza pode ser perfeita, em todos os sentidos. Beatriz é a nova doce musa que agora já desponta, exuberante. Todas são bonitas e amáveis — e nenhuma delas me suprime a liberdade. Tem ainda Juliana, a filha belíssima da costureira que me tira medidas demoradas... E tem você, por todas as razões que nem preciso dizer. Ah, tem também Carol, aquela menina das meias brancas que a mamãe lava com sabonete Dove, e que estuda no colégio ali da esquina.

Continuando: tem Vera Lux, artista que me inspira com seus quadros e nudezes. Tem Ângela com seus ursinhos e óleos de amêndoas; tem Silvana e nossos papos demorados à beira da paixão; tem Michelle com surpresas infindáveis; tem Denise e nossas tardes de domingo com torta holandesa; Fernanda e as conversas sobre Nietzsche e religião; tem Marina e suas mãos inesquecíveis. Etc.

É por isso que não posso escolher uma só.

Escolher uma delas — e desprezar todas as outras — seria uma ofensa às demais. Sufocar vários corações em nome apenas da moral tradicional é lamentável. Seria um absurdo. Um pecado. Uma traição à própria Vida. Uma ofensa desnecessária ao Amor e à Liberdade.

Como se vê, seria um mútuo desperdício imperdoável..

2.8.11

trem da vida

Há uma Isadora Duncan no meio da tua alma, dançando, absoluta. José Limón e Martha Graham de mãos dadas, aguardando no teu peito a sua hora — mais de mil coreografias na cabeça. E o trem da vida não chega. Você pensa que ele não chega... Você erra em mais uma avaliação acerca do teu próprio coração. E fica aí, parado na estação, dormindo, embolorando.

O trem da vida passa em silêncio — mas você não o ouve.

Você gasta a existência toda preparando malas. Você gasta a existência toda arrumando a bagagem, gritando com filhos e carregadores. Gritando com fantasmas e amores, pequeninos, cerceadores. E eu agora pergunto: Quando é que você vai criar coragem — e subir de vez no trem da vida? Quando vai começar tua verdadeira viagem? Quando é que você vai abraçar a Glória e saltar profundo? Quando?

dois caminhos

A vida tem dois caminhos:

Ou você segue o caminho da Tristeza,
arma-se de medo, de ciúmes e de falsas alegrias,
arma-se de angústia, fecha os olhos, se acomoda,
e segue o rebanho dos que não sabem;
obedece regras injustas, não reage, não questiona,
não se aprimora, não lê, não significa,
nem percebe o absurdo em que se mete:
vende a própria natureza
por duas ou três moedas de aço,
troca a inocência pura pela responsabilidade apressada,
torna-se respeitável aos olhos da sociedade,
cumpre horários, nunca tem tempo,
preocupa-se com coisas banais;
comerciante das próprias emoções, já não brinca,
vive correndo, ama com pressa,
esquece-se da lua,
e se torna uma pessoa média, mediana, medíocre,
pequena, cansada e normal...

Ou você escolhe o caminho da Ousadia,
compreende, se aprofunda, vai mais longe, realiza,
respeita o ser humano que existe em você mesmo,
resgata a própria vida e o sorriso,
rompe de vez com o passado agonizante,
procura defender a verdade, a justiça e a poesia,
acorda e assopra o fogo da alma que dormia,
ultrapassa os limites que sufocam,
cavalga o cavalo negro, cego e alado
das paixões gostosas e sublimes,
enche o peito de coragem, corações e relâmpagos,
acende de novo esse vulcão que é o teu corpo,
deixa a própria cabeça plena de agora,
de ternura e de vertigem,
e parte em busca de Aventura, de Amor e Liberdade.


É uma simples questão de escolha.


Qual é o teu caminho?